Para pessoas emotivas, o calendário de datas comemorativas é um prato cheio para reflexões. Aniversário de mãe, por exemplo, nos remete à infância. Mais do que uma mensagem de aniversário, deixo aqui uma homenagem à mãe que ficou perdida naquela época, pois quando olho pra ela agora, vejo e não vejo aquela mulher de antes. Continua linda e amada da mesma forma, mas já não é a mesma pessoa. E às vezes é.
Ah, se a VIDA fosse um filme que pudéssemos rebobinar quando desejássemos. Quereria eu fazê-lo? Não sei. Faria? Possivelmente não. Está lacrado e são possibilidades... Um momento é um momento. Não pode ser dividido em mais, fracionado e ser vivido mais de uma vez. Luma Rosa in Minha Infância - fragmentos
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Eu e a Mamy no Natal 2010. Ao fundo, três das manas (só faltou a Flóp). |
Eu sei que todo mundo diz isso, mas... não existe no mundo mãe especial como a minha. Falo com o aval das minhas amigas: muitas assinaturas embaixo. Orgulho-me da relação que temos e sempre tivemos. Tudo registrado em tantas cartas, bilhetinhos e cartões que sempre lhe enderecei, como a longa carta que escrevi quando a minha filha nasceu.
Hoje minha mãe faz 52 anos, mas se tem algo que ela nunca ligou é idade. Tanto que, aos 50 anos, adotou duas gêmeas recém-nascidas, minhas manas caçulinhas Rafaela e Eduarda - registro a chegada das duas lindas no diário do meu tratamento - blog Animando-C.
E para marcar esta data, compartilho com vocês a poesia Coração, de Guilherme de Almeida, que era a preferida da Mamy quando ela era criança, e que cai muito bem no contexto desta reflexão. Pra você, mamãe...
Coração
Lembrança, quanta lembrança
Dos tempos que já lá vão!
Minha vida de criança,
Minha bolha de sabão!
Infância, que sorte cega,
Que ventania cruel,
Que enxurrada te carrega,
Meu barquinho de papel?
Como vais, como te apartas,
E que sozinho que estou!
Ó meu castelo de cartas,
Quem foi que te derrubou?
Tudo muda, tudo passa
Neste mundo de ilusão;
Vai para o céu a fumaça,
Fica na terra o carvão.
Mas sempre, sem que te iludas,
Cantando num mesmo tom,
Só tu, coração, não mudas,
Porque és puro e porque és bom!
Guilherme de Almeida
(1890-1969)